Inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)

Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) são uma classe de medicamentos amplamente prescritos para tratar transtornos psiquiátricos como depressão e ansiedade. Atuando ao aumentar a disponibilidade de serotonina no cérebro, eles promovem melhorias no humor e na regulação emocional. Este artigo detalha os principais ISRS, como fluoxetina e sertralina, suas indicações terapêuticas, mecanismo de ação, efeitos colaterais e precauções. A descontinuação dos ISRS deve ser feita de forma gradual e sob supervisão médica para minimizar sintomas adversos.

O que são Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS)?

Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) representam uma classe de fármacos amplamente prescritos no tratamento de diversos transtornos psiquiátricos, como depressão e ansiedade. Esses medicamentos atuam especificamente no mecanismo de recaptura da serotonina, um neurotransmissor fundamental para a regulação do humor. Ao inibir a recaptura da serotonina pelos neurônios, os ISRS aumentam a disponibilidade desse neurotransmissor na sinapse, promovendo um efeito antidepressivo e ansiolítico.

Os ISRS ganharam notoriedade na década de 1980, quando foram desenvolvidos e introduzidos no mercado farmacêutico. A primeira droga dessa categoria, fluoxetina, comercialmente conhecida como Prozac, revolucionou a abordagem ao tratamento da depressão. Desde então, outros fármacos, como sertralina, citalopram e escitalopram, seguiram o mesmo caminho, oferecendo alternativas terapêuticas para milhões de pessoas ao redor do mundo.

Uma das razões pela qual os ISRS são preferidos em comparação com outras classes de antidepressivos é seu perfil de segurança relativamente favorável. Em geral, eles possuem menos efeitos colaterais adversos do que os antidepressivos tricíclicos ou os inibidores da monoamina oxidase (IMAO). Além disso, os ISRS apresentam um risco menor de toxicidade em casos de overdose, um fator crucial na escolha do tratamento para pacientes vulneráveis.

Além do tratamento da depressão e ansiedade, uso dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina se estende a outras condições, como transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e distúrbios alimentares. Dada a sua abrangência clínica e eficácia, os ISRS continuam sendo uma ferramenta valiosa na psiquiatria moderna, oferecendo esperança e alívio a muitos pacientes que sofrem de transtornos mentais debilitantes.

Lista de Medicamentos ISRS Comuns

Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS) são amplamente prescritos para tratar uma variedade de condições, principalmente distúrbios relacionados à saúde mental. Abaixo, apresentamos uma lista dos ISRS mais comumente prescritos, juntamente com seus nomes genéricos e comerciais, suas indicações e dosagens típicas.

  • Fluoxetina (Prozac): A fluoxetina, conhecida comercialmente como Prozac, é um dos ISRS mais prescritos. É geralmente indicada para o tratamento de depressão maior, transtorno obsessivo-compulsivo (TOC), bulimia nervosa e transtorno do pânico. As dosagens começam usualmente em 20 mg por dia, podendo ser ajustadas pelo médico até um máximo de 80 mg por dia, dependendo da resposta do paciente.
  • Sertralina (Zoloft): Comercializada como Zoloft, a sertralina é utilizada no tratamento de depressão, TOC, transtorno de estresse pós-traumático (TEPT), transtorno de ansiedade social e transtorno do pânico. As dosagens iniciais geralmente variam entre 25 mg a 50 mg por dia, podendo ser aumentadas gradualmente até um máximo de 200 mg por dia.
  • Paroxetina (Paxil): A paroxetina, cujo nome comercial é Paxil, é indicada para depressão maior, TOC, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno de ansiedade social e TEPT. A dose inicial normalmente é de 20 mg por dia, ajustada conforme necessário até um máximo de 60 mg por dia.
  • Citalopram (Celexa): Conhecido comercialmente como Celexa, o citalopram é prescrito para depressão maior. O tratamento em geral inicia com 20 mg por dia, podendo ser aumentado até um máximo de 40 mg por dia, conforme a resposta clínica.
  • Escitalopram (Lexapro): O escitalopram, vendido como Lexapro, é utilizado para tratar depressão maior e transtorno de ansiedade generalizada. A dose usual inicial é de 10 mg por dia, com a possibilidade de aumento para até 20 mg por dia, dependendo da eficácia e da tolerância do paciente.

Esses medicamentos ajudam a aliviar sintomas ao aumentar os níveis de serotonina no cérebro, um neurotransmissor chave no bem-estar emocional. A escolha do ISRS específico e a dosagem adequada devem sempre ser feitas sob supervisão médica, considerando as particularidades de cada paciente e a natureza do transtorno a ser tratado.

Mecanismo de Ação dos ISRS

Os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina, também conhecidos pela sigla ISRS, representam um avanço significativo no tratamento de diversas condições psiquiátricas. O mecanismo de ação destes medicamentos reside na sua capacidade de bloquear a recaptação da serotonina nas sinapses do cérebro. Este bloqueio aumenta a disponibilidade de serotonina no espaço sináptico, prolongando sua ação e sinalização entre os neurônios.

A serotonina é um neurotransmissor crucial para a regulação do humor, emoção e sono. Em um cérebro saudável, a serotonina é liberada pelo neurônio pré-sináptico e, após transmitir seu sinal, é prontamente recaptada pelo mesmo neurônio. Esta recaptação é mediada por transportadores específicos, e é precisamente nestes transportadores que os ISRS atuam. Ao inibir a função destes transportadores, os ISRS impedem a remoção rápida da serotonina, permitindo que ela permaneça ativa por um período mais prolongado.

Este aumento na disponibilidade de serotonina facilita uma maior transmissão dos sinais nervosos nas sinapses, o que tem sido associado a melhorias na regulação do humor em pacientes com depressão e ansiedade. Além disso, pesquisas indicam que a serotonina desempenha um papel vital na neurogênese e na plasticidade sináptica, processos que são essenciais para a adaptação e resposta do cérebro a novas informações. Portanto, o impacto dos ISRS vai além do simples aumento dos níveis de serotonina; eles podem promover mudanças duradouras na arquitetura cerebral, contribuindo para seus efeitos terapêuticos.

É importante observar que os ISRS são seletivos, ou seja, têm uma afinidade muito maior pelos transportadores de serotonina do que por outros transportadores de neurotransmissores. Esta seletividade reduz a probabilidade de efeitos colaterais associados à interferência com outros sistemas neurotransmissores, tornando os ISRS uma classe de medicamentos relativamente seguros e eficazes para o tratamento de várias condições psiquiátricas, incluindo depressão, transtornos de ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo.

Indicações Terapêuticas dos ISRS

Os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS) são amplamente prescritos para o tratamento de diversas condições psiquiátricas devido à sua eficácia e perfil de segurança relativamente alto. Um dos usos mais comuns dos ISRS é no tratamento da depressão maior. Estudos clínicos robustos demonstram que os ISRS são eficazes na redução dos sintomas depressivos, atuando ao bloquear a recaptação de serotonina no cérebro e, assim, aumentando sua disponibilidade. Isso resulta em uma melhora do humor e sensação de bem-estar nos pacientes.

Outro campo no qual os ISRS se mostraram eficazes é o tratamento do transtorno de ansiedade generalizada (TAG). Pacientes com TAG frequentemente experimentam melhoras significativas nos níveis de ansiedade e irritabilidade quando tratados com inibidores seletivos da recaptação de serotonina. A eficácia dos ISRS no TAG é também apoiada por um número considerável de estudos clínicos, que destacam uma redução consistente nos sintomas ansiosos.

Além da depressão e ansiedade, os ISRS são utilizados como tratamento de primeira linha para o transtorno do pânico. Este transtorno se caracteriza por ataques repentinos e recorrentes de medo intenso. A utilização regular de ISRS tem sido associada à diminuição da frequência e intensidade desses ataques de pânico. Isso se dá pela estabilização dos níveis de serotonina, que desempenha um papel crucial no mecanismo subjacente ao transtorno do pânico.

Os ISRS também são aprovados para o tratamento do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Estudos clínicos indicam que esses medicamentos podem reduzir significativamente os comportamentos obsessivos e compulsivos, promovendo uma qualidade de vida melhor para os pacientes. Da mesma forma, os inibidores seletivos da recaptação de serotonina são úteis no manejo do transtorno de estresse pós-traumático (PTSD). Pesquisas mostram que eles podem contribuir para a diminuição dos pesadelos e flashbacks, facilitando uma recuperação gradual dos pacientes.

A eficácia dos ISRS em uma variedade de condições psiquiátricas destaca sua importância no campo da saúde mental. No entanto, é fundamental realizar uma avaliação médica adequada para determinar a necessidade e a dosagem ideal para cada paciente, garantindo a utilização segura e eficaz desses medicamentos.

Farmacocinética

Embora todos os ISRSs apresentem o mesmo mecanismo de ação, as diferenças entre as estruturas moleculares fazem com que os diferentes compostos apresentem perfis farmacocinéticos diversos.

Todos os ISRSs apresentam alta ligação proteica (fluvoxamina e citalopram em menor grau). A fluoxetina é a única que apresenta metabólito com atividade clínica significativa (inibição da recaptação de serotonina e inibição de isoenzimas do citocromo P 450) , a norfluoxetina.

A meia-vida prolongada da fluoxetina e da norfluoxetina e o tempo necessário para se atingir o estado de equilíbrio apresentam significado clínico, como a maior latência para o início da ação antidepressiva.

As concentrações plamáticas de sertralina e citalopram são proporcionais às doses administradas (farmacocinética linear), o que não ocorre com fluoxetina, paroxetina e fluvoxamina, cuja farmacocinética não é linear.

Estes ISRSs diminuem seu metabolismo por ação inibitória dose-dependente das isoenzimas do citocromo P450 (CYP), o que significa que aumentos na dose administrada de fluoxetina, paroxetina e fluvoxamina levam a aumentos desproporcionais nos níveis plasmáticos, meias-vidas e possivelmente efeitos colaterais.

Os ISRSs são rapidamente absorvidos, sofrem menos efeito do metabolismo de primeira passagem, se ligam fortemente a proteínas plasmáticas, todos (em menor proporção fluvoxamina) deslocam outras drogas da ligação proteica, aumentando seu nível plasmático.

Metabolizados primariamente pelo fígado, todos os ISRSs afetam as enzimas metabolizadoras do citocromo P-450 (em menor proporção sertralina) e podem comprometer o metabolismo de outras drogas metabolizadas por este sistema.

Tem-se demonstrado que fluoxetina e paroxetina diminuem seu metabolismo com o tempo. O pico plasmático da sertralina aumenta 30% quando o medicamento é ingerido com alimentos, pela diminuição do metabolismo de primeira passagem.

Efeitos colaterais dos ISRSs

Em função de sua ação seletiva, apresentam perfil mais tolerável de efeitos colaterais, existindo também diferenças entre os principais efeitos colaterais dos diferentes ISRSs.

De forma geral, os efeitos colaterais mais freqüentemente relatados são: gastrintestinais (náuseas, vômitos, dor abdominal, diarréia), psiquiátricos (agitação, ansiedade, insônia, ciclagem para mania, nervosismo), alterações do sono, fadiga, efeitos neurológicos (tremores, efeitos extrapiramidais), perda ou ganho de peso, disfunções sexuais, reações dermatológicas.

  • Gastrintestinais: os efeitos anticolinérgicos da paroxetina podem levar a maior incidência de obstipação intestinal em detrimento de diarréia; por outro lado, alguns estudos sugerem maior incidência de diarréia com a sertralina em relação à fluoxetina, e citalopram.
  • Reações dermatológicas: mais freqüentes com a fluoxetina. Freqüentemente aparecem na forma de urticária, que pode estar acompanhada por febre, artralgia e eosinofilia.
  • Efeitos psiquiátricos: a fluoxetina parece estar mais relacionada ao aparecimento de efeitos colaterais como agitação, insônia, ansiedade, ciclagem para a mania e nervosismo. Entretanto, os outros ISRSs podem apresentar os mesmos efeitos com o emprego de doses mais elevadas.
  • Alterações de peso: a sertralina está associada a uma discreta perda de peso no início do tratamento; a fluoxetina parece ser mais potente na inibição do apetite, com maior perda de peso no início do tratamento; a paroxetina, ao contrário, foi associada a ganho de peso, o que também foi relatado com o citalopram.
  • Disfunção sexual: o uso de ISRSs foi associado principalmente a retardo ejaculatório em homens e anorgasmia em mulheres; a paroxetina está associada a uma maior incidência desses efeitos colaterais, o que poderia ser explicado por sua potência na inibição da recaptação de serotonina e sua mínima atividade dopaminérgica.
  • Síndrome serotonérgica: A seletividade de ação dos inibidores seletivos da recaptação de serotonina, que explica a redução no perfil de efeitos colaterais, pode, por outro lado, aumentar o risco de interação com outras substâncias que afetem a transmissão serotonérgica, levando ao aparecimento de sintomas que são freqüentemente descritos como síndrome serotonérgica.

Os sintomas podem aparecer em casos de intoxicação por inibidores seletivos da recaptação de serotonina ou mesmo com o emprego de doses terapêuticas de substâncias serotonérgicas associadas, como ADTs, IMAOs, ISRSs e lítio.

Também podem ocorrer na substituição entre substâncias, quando não se observa período de wash-out adequado para a total eliminação da substância.

Foram descritos: alterações cognitivas e comportamentais (confusão, hipomania, agitação), do sistema nervoso autônomo (diarréia, febre, diaforese, efeitos na pressão arterial, náuseas e vômitos) e neuromusculares (mioclonias, hiperreflexia, incoordenação e tremores).

Sintomas de retirada (descontinuação)

Os sintomas que aparecem na retirada dos ISRSs são clinicamente benignos, podem aparecer dentro de 1 a 10 dias após a retirada da medicação (embora no caso da fluoxetina possam aparecer várias semanas depois, em função de seu perfil farmacocinético.), e persistir por até 3 semanas.

Os sintomas mais freqüentes são tonturas, vertigens, ataxia, sintomas gastrintestinais (náuseas e vômitos), sintomas gripais, distúrbios sensoriais (parestesias), alterações de sono (insônia, sonhos vívidos), e sintomas psíquicos (irritabilidade, agitação, ansiedade).

Assim como acontece com outras substâncias psicoativas, estes sintomas podem ser o resultado de alterações adaptativas que mais freqüentemente envolvem o ajustamento de receptores para compensar a atividade farmacológica da droga (efeito rebote).

O aparecimento dos sintomas correlaciona-se com a queda nos níveis plasmáticos dos ISRSs, o que explica sua maior incidência na retirada de paroxetina e fluvoxamina do que durante a retirada de fluoxetina.

Entretanto, a maior ocorrência desses sintomas com a paroxetina pode ser explicada não apenas pelo perfil farmacocinético, mas também por seus efeitos anticolinérgicos.

Texto adaptado de Ricardo Alberto Moreno, Doris Hupfeld Moreno e Márcia Britto de Macedo Soares: Psicofarmacologia de antidepressivos, Rev Bras Psiquiatr.

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