Insuficiência cardíaca (IC), também conhecida como Insuficiência cardíaca congestiva (ICC), é um termo médico usado para caracterizar falência (ou incapacidade) do coração para bombear sangue suficiente para satisfazer as necessidades do corpo. Ela é considerada uma síndrome, porque ela pode causar danos a vários órgãos e tecidos e pode causar vários sintomas.
A insuficiência cardíaca pode ocorrer devido a uma dificuldade do miocárdio (músculo liso do coração) de se contrair, resultante do fluxo sanguíneo coronariano diminuído, assim como pela lesão das valvas cardíacas, pela pressão externa em torno do coração, pela deficiência de vitamina B, ou por qualquer anormalidade que reduza a capacidade do coração bombear sangue.
Aproximadamente de 1% das pessoas maiores de 40 anos idade sofrem da insuficiência cardíaca. A prevalência desta doença tende a dobrar a cada 10 anos de idade, chegando a ser de 10% nas pessoas com mais de 70 anos. Ela afeta mais pessoas negras, sendo os homens os que mais sofrem. A sobrevivência é de cerca de 50% em 5 anos após o diagnóstico, portanto, não é melhor do que muitos cânceres (Rodríguez-Artalejo et al, 2004 & Malik et al, 2021).
Embora não seja possível reverter todas as condições que causam a ICC, alguns tratamentos (incluindo medicamentoso) podem ajudar a melhorar os sinais e sintomas dela, de modo que a esperança de vida aumente.
Sintomas
Alguns dos sinais e sintomas de insuficiência cardíaca podem incluir o seguinte:
- Falta de ar (dispneia) quando você se exercita ou se deita
- Fadiga e fraqueza
- Inchaço (edema) nas pernas, tornozelos e pés
- Batimento cardíaco rápido ou irregular
- Capacidade reduzida de exercício
- Tosse ou respiração ofegante constantes com catarro branco ou rosa manchado de sangue
- Maior necessidade de urinar à noite
- Inchaço do abdômen (ascite)
- Ganho de peso muito rápido devido à retenção de líquidos
- Falta de apetite e náuseas
- Dificuldade de concentração ou diminuição do estado de alerta
- Falta de ar súbita e severa e tosse com muco rosa espumoso
- Dor no peito se a insuficiência cardíaca for o resultado de um ataque cardíaco
Causas
Geralmente o que causa insuficiência cardíaca são outras doenças do coração (cardiopatias), que podem danificar ou enfraquecê-lo. No entanto, pode ser que as câmaras (ventrículos) do coração fiquem rígidas e não consigam bombear adequadamente o sangue. Também pode ser que eles não se enchem devidamente.
Além disso, pode ser que o músculo cardíaco (miocárdio) seja danificado e fique fraco; os ventrículos podem se dilatar (aumentar de tamanho) até o ponto em que o coração não consegue bombear o sangue com eficiência por todo o corpo.
A seguir apresentamos algumas causas mais comuns da insuficiência cardíaca crônica:
- Ataque cardíaco. Geralmente causada pela formação de ateroma (placa de gordura) nas artérias coronárias, que, o que reduz o fluxo sanguíneo ao músculo do coração.
- Hipertensão arterial. A pressão arterial alta força seu coração a trabalhar mais do que o normal, o que pode diminuir sua eficiência de bombear sangue com o tempo.
- Miocardite. Se o miocárdio sofrer uma infecção viral, ele pode se inflamar e causar insuficiência cardíaca esquerda. Muitos vírus são responsáveis por essa inflamação, incluindo o coronavírus da COVID-19 e vírus da dengue.
- Cardiomiopatia. São doenças (para ser mais preciso, danos) do músculo cardíaco (cardiomiopatia) devidas a infecções, quimioterapia, abuso de álcool e o efeito tóxico de drogas, como a cocaína. Nalguns casos, a cardiomiopatia pode ser congênita, onde o bebê nasce com seu coração e suas câmaras ou válvulas sem a formação devida, dificultando o seu funcionamento adequado.
- Arritmias cardíacas. Quando nosso coração apresenta ritmos anormais (excessivo ou muito lento) podem sobrecarregar o coração de modo que ele comece a falhar e assim levar a cardíaca.
- Válvulas cardíacas defeituosas. As válvulas cardíacas mantêm o sangue fluindo na direção certa através do coração. Uma válvula danificada – devido a um defeito cardíaco, doença arterial coronariana ou infecção cardíaca – força o coração a trabalhar mais, o que pode enfraquecê-lo com o tempo.
- Algumas doenças crônicas– como diabetes, HIV, hipertireoidismo, acúmulo de ferro (hemocromatose) ou proteína (amiloidose) – e infecções bacterianas também podem contribuir para a insuficiência cardíaca.
Tipos de insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíacada pode ser classificada como aguda, se ocorrer devido a um problema súbito ou crônico se o problema persistir por longo período. Outros tipos de IC incluem:
- Na insuficiência cardíaca esquerda pode haver acúmulo de líquidos nos pulmões, causando falta de ar e, portanto, dificuldade de respirar.
- Na insuficiência cardíaca direita os líquido podem acumular-se no abdômen, pernas e pés, causando inchaço. Em geral, a insuficiência cardíaca começa no lado esquerdo, especificamente no ventrículo esquerdo – a principal câmara de bombeamento do coração.
- A insuficiência cardíaca compensada ocorre quando o coração sofre uma incapacidade de bombear sangue e depois se recupera, e o aumento da pressão atrial direita pode manter o débito cardíaco em nível normal, apesar da fraqueza continuada do coração. No entanto, qualquer tentativa de realizar exercícios intensos causa em geral retorno imediato dos sintomas da insuficiência aguda, pois o coração não é capaz de aumentar sua capacidade de bombeamento até os níveis necessários para o exercício.
- A insuficiência cardíaca descompensada ocorrer devido a uma lesão grave de modo que nenhum tipo de compensação pelos reflexos nervosos simpáticos ou pela retenção de líquido pode fazer com que o coração excessivamente enfraquecido bombeie débito cardíaco normal. Como consequência, o débito cardíaco não pode aumentar o suficiente para fazer com que os rins excretem quantidades normais de líquido. Por conseguinte, o líquido continua a ser retido, a pessoa desenvolve mais e mais edema, e esse estado de eventos leva eventualmente à morte.
- Insuficiência cardíaca sistólica em que o ventrículo esquerdo não consegue se contrair vigorosamente (problema de bombeamento).
- Insuficiência cardíaca diastólica o ventrículo esquerdo não pode relaxar ou encher completamente (problema de enchimento). Este tipo de IC é também chamado de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada.
Como dissemos no início deste artigo, todas essas insuficiências são conhecidas como insuficiência cardíaca congestiva (ICC).
Fisiopatologia da insuficiência cardíaca congestiva
Depois que o coração sofre “agressão” (como no infarto do miocárdio), nosso corpo tenta recuperar o seu funcionamento normal ativando vários mecanismos. No entanto, embora tenha sucesso em superar essa situação, o corpo pode não segurar a situação por muito tempo, se o coração continuar a sofrer agressões.
Portanto, a primeira resposta do miocárdio ao aumento desse estresse é a hipertrofia dos miócitos (células do músculo do coração), morte por apoptose e regeneração. Esse processo acaba levando à remodelação e redução do débito cardíaco (volume de sangue bombeado em 1 minuto), causando uma cascata do mecanismo neuro-humoral e vascular.
Desta forma, o sistema nervoso simpático é ativado, causando aumento da frequência cardíaca e a contração do miocárdio (ionotropia). Isso leva a toxicidade deste músculo. A ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona leva à vasoconstrição, aumentando a pós-carga (angiotensina II) e alterações hemodinâmicas, aumentando a pré-carga (aldosterona).
Pessoas com insuficiência cardíaca com capacidade de ejetar mais de 40% de sangue, apresentam comprometimento do relaxamento e aumento da rigidez ventricular, levando à disfunção no enchimento diastólico do ventrículo esquerdo. Enquanto, pessoas com hipertrofia ventricular tendem a apresentar elevação das pressões diastólicas, o que pode aumentar o gasto energético e a demanda de oxigênio e isquemia (morte) miocárdica.
Todos esses mecanismos causarão remodelamento negativo e piorarão a função ventricular esquerda, causando sintomas de insuficiência cardíaca.
Diagnóstico
O diagnóstico da insuficiência cardíaca pode ser feito através de um exame físico. Portanto, o médico pode procurar sinais da dispneia. Ele também poderá verificar se você perde ar quando se deita (ortopeneia) ou durante as noites (dispneia paroxística).
Além disso, é costume dos médicos também observar se o paciente apresenta pressão venosa jugular elevada, edema periférico, fígado palpável, crepitações basais, taquicardia e uma terceira bulha cardíaca é bem conhecida.
Seu médico pode pedir alguns exames de sangue, para verificar o níveis de alguns eletrólitos, como sódio e potássio. Normalmente, na insuficiência cardíaca a concentração de sódio costuma estar abaixo de 130 mili moles por litro (mmol / L). Outros exames de sangue são feitos também para verificar se há presença de anemia e a função da tiroide.
Outros exames que podem ser feitos são:
- Eletrocardiograma. Muitas vezes mostra hipertrofia do ventrículo esquerdo.
- Raios-X do tórax.
- Ecocardiografia.
Tratamentos para insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca não tem cura, o que significa que você precisará reduzir controlar os sintomas e as causas para o resto da vida. Por isso, os principais objetivos do tratamento na insuficiência cardíaca são (Inandar & Inandar, 2016):
- Melhorar o prognóstico e reduzir a mortalidade e
- Aliviar os sintomas e reduzir a morbidade, revertendo ou retardando a disfunção cardíaca e periférica.
Pode ser necessário tomar medicamentos ou uso de dispositivos que ajudarão o seu coração a manter o batimento.
Medicamentos para insuficiência cardíaca
Inibidores da Enzima de Conversão da Angiotensina (IECA).
Os IECAs, como enalapril e captopril, são medicamentos usados para modificação neuro-hormonal, bem como causar vasodilatação de modo que a pressão arterial é diminuida. Desta forma seu coração estará menos sobrecarregado.
Seus efeitos adversos mais comuns, incluem tosse, hipotensão ortostática na primeira dose, erupção cutânea, perda do paladar, presença de proteína na urina, leucopenia e hipersensibilidade com edema angioneurótico.
Betabloqueadores
Medicamentos dessa classe podem ajudar a diminuir a frequência do batimento cardíaco e a pressão arterial, bem como podem servir para impedir ou rever danos no coração. Por isso, esses medicamentos são usados pelos médicos para ajudar a tratar insuficiência cardíaca sistólica. Alguns exemplos são metoprolol e bisoprolol. Esses medicamentos diminuem a chance de morte inesperada.
Os efeitos adversos dos betabloqueadores incluem cansaço, diminuição da frequência cardíaca, dispnéia de exercício, depressão, disfunção sexual, crises de asma e distúrbios do sono.
Antagonistas da aldosterona
A espironolactona é um exemplo clássico e bem conhecido do grupo dos antagonistas da aldosterona. A aldosterona é um hormônio que tem como principal função a regulação do balanço eletrolítico (potássio, por exemplo). Portanto, os antagonistas da adolsterona ajudam o organismo a conservar o potássio.
Desta forma, estes medicamento ajudam no controle dos sintomas da insuficiência cardíaca, na melhora da variabilidade da frequência cardíaca, diminuição das arritmias ventriculares, redução da carga de trabalho cardíaca e aumenta a esperança de vida.
No entanto, estes medicamentos podem elevar o nível de potássio no sangue a níveis perigosos. Por isso procure conversar com seu médico e nutricionista para verificarem como pode tomar esse medicamento e consumir alimentos de modo a não elevar a quantidade do potássio no sangue.
Diuréticos
Essa classe de medicamentos incluem tiazídicos, diuréticos de alça de Henle e poupadores de potássio (veja o artigo sobre formação de urina para entender melhor). Eles são usados para reduzir o edema pela redução do volume sanguíneo e da pressão venosa e restrição de sal (para reduzir a retenção de líquidos).
Ou seja, esses medicamentos permitem a você urinar com mais frequência e assim evitar que o líquido se acumule no corpo. Os diuréticos, como a furosemida, também reduzem os líquidos nos pulmões, para que você possa respirar com mais facilidade. Como os diuréticos fazem com que o corpo perca potássio e magnésio, seu médico também pode prescrever suplementos para esses minerais.
Digoxina
A digoxina é um medicamento digitálico, ele tem a capacidade de aumentar a força das contrações do músculo cardíaco. Bem como reduzir as arritmias cardíacas. É mais provável que seja administrado a uma pessoa com problemas de ritmo cardíaco, como fibrilação atrial.
No entanto, a digoxina pode levar a um pequeno aumento no débito cardíaco, melhora dos sintomas de insuficiência cardíaca e diminuição da taxa de hospitalizações por insuficiência cardíaca.
Este medicamento pode causar anorexia, náusea e vómitos. Também pode causar dor de cabeça e tonturas, confusão, depressão e alteração da visão das cores.
Outros medicamentos, cirurgias e dispositivos
- Anticoagulantes, se for necessário, é usado para diminuir o risco de tromboembolismo.
- Inotrópicos. São medicamentos intravenosos usados no hospital por pessoas com insuficiência cardíaca grave para melhorar a função de bombeamento do coração e manter a pressão arterial.
- Cirurgia de bypass da artéria coronária. Médicos costumam usar outras vasos sanguíneos como atalho para contornar uma artéria bloqueada no coração. Os vasos preferidos são da perna, braço e tórax.
- Reparação ou substituição da válvula cardíaca.
- Desfibriladores cardioversores implantáveis. Dispositivo semelhante ao marcapasso, que é implantado na pele do tórax e os fios do dispositivo passam pelas veias até o coração. Esse dispositivo ajuda a controlar o ritmo cardíaco.
- Terapia de ressincronização cardíaca ou estimulação biventricular.
- Dispositivos de assistência ventricular.
- Transplante de coração.
Prevenção da insuficiência cardíaca
Você pode prevenir a insuficiência cardíaca ao diminuir os fatores de risco. Que incluem outras doenças do coração – como a hipertensão e hipotensão – você também procurar mudar seus hábitos (estilo) de vida, incluindo hábitos alimentares e se exercitar modestamente.
A seguir descremos o que uma pessoa com insuficiência cardíaca não pode fazer:
- Fumar
- Beber álcool excessivamente
- Ficar fisicamente ativo
- Comer comida não saudável
- Estar acima de peso
- Estar estressado