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Vírus: estrutura, crescimento e doenças

virus

Vírus são agentes infecciosos microscópicos que se destacam por sua incapacidade de se replicar fora de uma célula hospedeira. Diferentemente de outros microrganismos, como bactérias e fungos, os vírus necessitam invadir células vivas para utilizar a maquinaria celular a fim de replicar seu material genético e gerar novos vírus. Esta característica os classifica como parasitas intracelulares obrigatórios, uma vez que dependem inteiramente das células hospedeiras para sua reprodução e sobrevivência.

A maioria dos vírus tem RNA ou DNA como seu material genético. O ácido nucleico pode ser de cadeia simples ou dupla. Alem diso, toda a partícula de vírus infecciosa, chamada virião, consiste no ácido nucleico e uma camada externa de proteína.

Descoberta

A história da descoberta dos vírus remonta ao final do século XIX, com a identificação do vírus do mosaico do tabaco (TMV) por Dmitri Ivanovsky. Em 1892, Ivanovsky descobriu que a doença que afetava as plantas de tabaco podia ser transmitida por um agente infeccioso que passava por filtros que retinham bactérias, sugerindo que este agente era significativamente menor do que qualquer bactéria conhecida.

Em 1898, Martinus Beijerinck confirmou as observações de Ivanovsky e cunhou o termo “vírus” para descrever o agente infeccioso em questão, derivado do latim que significa “veneno” ou “toxina”. Este trabalho pioneiro lançou as bases para o campo da virologia.

Ao longo dos anos, diversos marcos importantes marcaram a pesquisa sobre vírus. Em 1931, Ernest William Goodpasture e Alice Miles Woodruff desenvolveram técnicas para cultivar estes microrganismos em ovos embrionados de galinha, permitindo o avanço significativo no estudo desses agentes infecciosos.

Posteriormente, na década de 1950, a descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick proporcionou uma compreensão mais profunda do material genético dos vírus.

Outro marco crucial foi a invenção do microscópio eletrônico, que permitiu a visualização direta destes microrganismos e suas estruturas complexas.

Nomenclatura

Os vírus são nomeados e classificados com base em critérios como a composição genética, a morfologia e o tipo de hospedeiro que infectam. Este método de classificação permite uma organização precisa e sistemática, facilitando o estudo e a sua identificação.

A classificação dos vírus começa no nível mais alto com a designação de ordens, que agrupam famílias de vírus com características comuns. Dentro dessas ordens, os vírus são subdivididos em famílias, gêneros e, finalmente, espécies.

Por exemplo, a família Herpesviridae inclui vírus como o herpes simplex (HSV) e o vírus varicela-zoster (VZV), que compartilham uma estrutura genômica e propriedades biológicas semelhantes.

Além da taxonomia oficial, os vírus também recebem nomes comuns baseados em doenças associadas, locais de descoberta ou características específicas.

O vírus da imunodeficiência humana (HIV) e o vírus da influenza são exemplos de nomenclaturas que refletem diretamente as doenças que causam. Da mesma forma, o vírus Ebola foi nomeado após o rio Ebola, próximo ao local onde foi identificado pela primeira vez.

Os métodos de classificação e nomenclatura são críticos para a pesquisa virológica, pois ajudam a identificar rapidamente características importantes de novos vírus, facilitando a resposta a surtos e o desenvolvimento de tratamentos e vacinas.

A constante evolução do conhecimento genético e biológico dos vírus também leva a ajustes e atualizações na nomenclatura, garantindo que o sistema permaneça relevante e preciso.

Estrutura do vírus

A estrutura básica de um vírus (figura 1) é composta por três componentes principais: o capsídeo, o envelope lipídico (presente em alguns tipos de vírus) e o material genético, que pode ser RNA ou DNA.

estrutura básica de um vírus
FIGURA 1. Estrutura básica de um vírus (Fonte: Wikipédia)

O capsídeo é uma camada de proteína que envolve e protege o material genético do vírus. Ele é formado por subunidades chamadas capsômeros, que se organizam de maneira específica para conferir sua estabilidade estrutural. A forma do capsídeo pode variar, sendo helicoidal ou icosaédrica, e desempenha um papel crucial na proteção do material genético contra fatores ambientais e no reconhecimento de células hospedeiras.

Alguns vírus apresentam uma camada adicional, o envelope lipídico, que é derivado da membrana da célula hospedeira durante o processo de brotamento. Esse envelope é composto por uma bicamada lipídica com proteínas virais incorporadas, que são essenciais para a fusão com a membrana da célula hospedeira e para a entrada do vírus. A presença ou ausência do envelope lipídico influencia a sua resistência a desinfetantes e condições ambientais adversas.

O material genético dos vírus pode ser composto por RNA ou DNA, que pode ser de fita simples ou dupla. A natureza do material genético determina o seu mecanismo de eplicação dentro da célula hospedeira. Por exemplo, os vírus de RNA utilizam a RNA polimerase, enquanto os vírus de DNA utilizam a DNA polimerase da célula hospedeira.

Um capsídeo mais o ácido nucleico incluído é chamado de nucleocapsídeo, que pode ser simples ou quase esférico.

A estrutura simples é uma hélice de proteína com o RNA ou o DNA protegido por ela. O vírus do mosaico do tabaco (TMV) (figura 2) é um exemplo clássico, no TMV as subunidades de proteína formam estruturas quebradiças semelhantes a discos, que formam a casca helicoidal de um vírus longo em forma de haste quando empilhadas juntas.

A outra estrutura é desginada icosaédrico ou quase esférico. Essa nomenclatura baseia-se no icosaedro, um objeto sólido constituído de 20 faces idênticas, cada uma das quais é um triângulo equilátero. No tipo mais simples de virião icosaédrico, cada uma das 20 faces triangulares é constituída por três subunidades de proteína de cápsideo idênticas, perfazendo um total de 60 subunidades por cápsideo.

virus mosaico de tabaco
FIGURA 2. Estrutura tipo do vírus de mosaico de tabaco

Em alguns vírus, o nucleocapsídeo simetricamente disposto é coberto por uma membrana externa, ou envelope, que consiste principalmente de uma bicamada fosfolipídica, mas também contém um ou dois tipos de glicoproteínas codificadas por ele.

Os fosfolidos no envelope viral s semelhantes aos da membrana plásmica de uma cula hospedeira infectada. O envelope viral é, de fato, derivado por brotamento dessa membrana, mas contém principalmente glicoproteínas virais.

Além dos vírus simples, que possuem apenas as estruturas básicas, há também vírus complexos com estruturas adicionais, como proteínas acessórias e enzimas que auxiliam na infecção e replicação. Essas diferenças estruturais influenciam diretamente na patogenicidade e no modo de transmissão dos vírus. Compreender essas variações é essencial para o desenvolvimento de intervenções terapêuticas e vacinas.

Como ocorre a mutação viral?

Os vírus são conhecidos por sua incrível capacidade de mutação, o que lhes permite adaptar-se rapidamente a novos ambientes e hospedeiros. As mutações virais, em grande parte, ocorrem devido a erros na replicação do material genético. Durante a replicação, as enzimas responsáveis pela cópia do material genético viral podem cometer erros, resultando em alterações na sequência de nucleotídeos. Esses erros são mais comuns em vírus de RNA, como o HIV e o vírus da gripe, devido à falta de mecanismos de correção de erros eficientes, ao contrário dos vírus de DNA.

Outro mecanismo que contribui para a sua mutação é a recombinação genética. Este processo envolve a troca de segmentos de material genético entre diferentes vírus que infectam a mesma célula hospedeira. A recombinação pode gerar novas variantes virais com características distintas, o que pode aumentar sua capacidade de infectar novos hospedeiros ou escapar da resposta imune. Por exemplo, o vírus da gripe é notório por sua alta taxa de recombinação, resultando em frequentes mudanças nas proteínas de superfície, o que torna a vacinação um desafio contínuo.

A importância das mutações na evolução viral não pode ser subestimada. Elas permitem que os vírus se adaptem a diferentes ambientes e escapem das defesas imunológicas dos hospedeiros. As mutações podem alterar as proteínas de superfície dos vírus, dificultando o reconhecimento pelo sistema imunológico e permitindo infecções persistentes ou recorrentes. No caso do HIV, as mutações frequentes no gene que codifica a proteína de superfície gp120 são uma das razões pelas quais o desenvolvimento de uma vacina eficaz tem sido tão desafiador.

Portanto, a mutação viral é um fenômeno crucial que contribui para a diversidade e a adaptabilidade dos vírus. Compreender os mecanismos de mutação e suas consequências é fundamental para o desenvolvimento de estratégias eficazes de controle e tratamento de doenças virais

Crescimento ou ciclo de vida dos vírus

A reprodução dos vírus é um processo intricado, envolvendo várias etapas fundamentais que garantem a propagação das partículas virais. Inicialmente, os vírus precisam se ligar a receptores específicos na superfície da célula hospedeira. Esta fase, conhecida como adsorção, é crucial, pois determina a especificidade do vírus para o tipo de célula que pode infectar. Após a ligação bem-sucedida, ocorre a penetração, onde o vírus entra na célula hospedeira por meio de endocitose ou fusão direta com a membrana celular.

Uma vez dentro da célula, o estes microrganismos deve liberar seu material genético para iniciar a replicação. Os vírus de DNA geralmente utilizam a maquinaria replicativa do núcleo da célula hospedeira, enquanto os vírus de RNA podem replicar-se diretamente no citoplasma. O genoma viral é então replicado em múltiplas cópias, um passo vital para a produção de novas partículas virais.

Paralelamente, a síntese de proteínas virais ocorre. Estas proteínas são essenciais para a construção da cápside viral e para a função dos novos virions. Utilizando os ribossomos da célula hospedeira, estes microrganismos traduzem seu RNA mensageiro em proteínas estruturais e enzimáticas. A montagem é a fase seguinte, onde as novas cópias do genoma viral e as proteínas estruturais recém-sintetizadas se reúnem para formar novas partículas virais.

O ciclo de vida do vírus culmina na liberação dos novos virions da célula hospedeira. Esta liberação pode acontecer por lise celular, onde a célula hospedeira é destruída, ou por brotamento, onde a célula hospedeira permanece relativamente intacta. Exemplos de diferentes ciclos de vida incluem o ciclo lítico do bacteriófago, que resulta na destruição da bactéria hospedeira, e o ciclo lisogênico, onde o vírus integra seu genoma ao da célula hospedeira e pode permanecer latente por longos períodos.

Estas etapas do ciclo de reprodução são comuns a muitos tipos de vírus, embora variações específicas possam ocorrer, refletindo a diversidade e a complexidade adaptativa dos vírus em diferentes contextos ambientais e em diferentes hospedeiros.

Retrovírus

Os retrovírus são uma classe única de vírus que se destacam por seu mecanismo peculiar de replicação. O ciclo de vida desses vírus envolve um processo denominado transcrição reversa, onde o RNA viral é convertido em DNA. Essa etapa é mediada pela enzima transcriptase reversa, que sintetiza uma cópia de DNA a partir do RNA viral. Este DNA, agora denominado DNA proviral, é então integrado ao genoma do hospedeiro pela enzima integrase.

Um exemplo notável de retrovírus é o HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana). Após a infecção inicial, o RNA do HIV é transcrito em DNA e integrado no DNA do hospedeiro. Esta integração permite que o vírus permaneça latente por períodos prolongados, escondido dentro das células do hospedeiro. Quando ativado, o DNA viral utiliza a maquinaria celular do hospedeiro para produzir novos RNA virais e proteínas, que se combinam para formar novos virions que, por sua vez, infectam outras células.

A persistência do retrovírus como o HIV no genoma do hospedeiro apresenta desafios significativos para o tratamento e cura. A integração do DNA viral no genoma do hospedeiro torna difícil erradicar totalmente o vírus. Mesmo com terapias antirretrovirais eficazes, que suprimem a replicação viral, o DNA proviral pode permanecer inativo nas células infectadas, pronto para reativar-se se a terapia for interrompida.

Além disso, a alta taxa de mutação dos retrovírus contribui para a sua resistência a medicamentos. As mutações podem ocorrer durante a transcrição reversa, resultando em variantes do vírus capazes de escapar à ação dos medicamentos antivirais. Esse fenômeno torna necessária a utilização de combinações de drogas em tratamentos conhecidos como terapia antirretroviral altamente ativa (HAART).

Doenças virais

Os vírus são responsáveis por diversas doenças que afetam significativamente a saúde humana. Entre as doenças respiratórias mais comuns está a gripe, causada pelo vírus influenza, e a COVID-19, provocada pelo SARS-CoV-2. Ambas podem causar sintomas que variam de leves a graves, incluindo febre, tosse e dificuldade para respirar. A COVID-19, em particular, levou a uma pandemia global, sublinhando a necessidade urgente de medidas de saúde pública eficazes, como o uso de máscaras e o distanciamento social, além da vacinação em massa para controlar a disseminação do vírus.

As doenças hepáticas, como a hepatite, também têm origens virais. Existem diferentes tipos de hepatite, como A, B e C, cada uma causada por um microrganismo distinto. A hepatite pode levar à inflamação do fígado, causando sintomas que vão desde fadiga e icterícia até complicações crônicas, como cirrose e câncer de fígado. A vacinação contra a hepatite B tem sido uma ferramenta crucial na prevenção da propagação dessa doença.

Doenças neurológicas, como a encefalite, são outra categoria significativa. A encefalite, uma inflamação do cérebro, pode ser causada por diversos vírus, incluindo o do herpes simples e o da encefalite japonesa. Os sintomas incluem febre, dor de cabeça intensa e confusão mental, e a condição pode levar a danos neurológicos permanentes ou até mesmo à morte.

As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) também são amplamente causadas por vírus, com o HIV sendo o mais notório. O HIV afeta o sistema imunológico, tornando o corpo suscetível a outras infecções e doenças. Desde a sua descoberta, o HIV tem sido um foco central dos esforços de pesquisa, levando ao desenvolvimento de terapias antirretrovirais que podem controlar a infecção e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

O impacto dessas doenças na saúde pública é profundo. A prevenção e o controle de doenças virais dependem de estratégias de vacinação, campanhas de conscientização e medidas de higiene eficazes. A pesquisa contínua e o desenvolvimento de vacinas são essenciais para mitigar os efeitos devastadores dessas infecções virais.

Tratamento e Prevenção de Infecções Virais

O tratamento de infecções virais é complexo e multifacetado, envolvendo uma combinação de antivirais, vacinas e terapias de suporte. Os antivirais desempenham um papel crucial no combate a vírus específicos, inibindo sua replicação e reduzindo a gravidade dos sintomas. Exemplos notáveis incluem o uso de medicamentos como o oseltamivir para a gripe e os antirretrovirais para o HIV. No entanto, a eficácia dos antivirais pode ser limitada devido à capacidade de mutação rápida dos vírus, o que pode levar ao desenvolvimento de resistência.

As vacinas representam uma das estratégias mais eficazes na prevenção de doenças virais. Elas funcionam estimulando o sistema imunológico a reconhecer e combater o vírus antes que ele cause infecção. A vacinação tem sido fundamental na erradicação de doenças como a poliomielite e na redução significativa de infecções por sarampo e HPV. A vacina contra o HPV, por exemplo, tem mostrado grande sucesso na prevenção de infecções que podem levar ao câncer cervical. Da mesma forma, as campanhas de vacinação contra o sarampo têm evitado milhares de mortes em todo o mundo.

Além dos antivirais e vacinas, as terapias de suporte são essenciais no manejo de infecções virais. Estas incluem cuidados como a hidratação adequada, controle da febre e, em casos graves, suporte ventilatório. Essas medidas ajudam a aliviar os sintomas e a melhorar a qualidade de vida dos pacientes enquanto o corpo combate a infecção.

O desenvolvimento de novos tratamentos e vacinas para vírus emergentes apresenta desafios significativos. A rápida mutação e a diversidade genética destes microrganismos muitas vezes dificultam a criação de terapias eficazes. Além disso, a necessidade de testes rigorosos para garantir a segurança e a eficácia dos novos tratamentos pode retardar sua disponibilidade. Apesar desses desafios, a pesquisa contínua e a inovação são cruciais para enfrentar novas ameaças virais e proteger a saúde pública.

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