Botulismo: sintomas, diagnóstico e tratamento

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O botulismo é uma doença neuroparalítica grave e rara, com baixa taxa de mortalidade. Ela é causada por uma toxina da bactécia conhecida como Clostridium botulinum (C. botulinum). Foram identificadas quatro formas de botulismo:

  1. Botulismo clássico ou alimentar. Ocorre quando o meio de transmissão são os alimentos contaminados e com toxina, principalmente enlatados.
  2. Botulismo por ferimentos, as bactérias entram em um corte onde causam uma infecção e produzem a toxina.
  3. Botulismo infantil, geralmente começa depois que os esporos da bactéria C. botulinum crescem no trato intestinal de um bebê. Majoritariamente ocorre em bebês com idades entre 1 e 6 meses.
  4. Botulismo por inalação. A toxina botulínica pode ser transmitida em forma de aerossol. Ela tem início de ação rápida e apresenta uma mortalidade alta. Há relatos do uso desse tipo de toxinas como arma biológica em forma de aerossol.

Sintomas

Botulismo clássico ou origem alimentar

Pacientes com botulismo alimentar tipicamente ficam enfraquecidos e com tonturas 1 a 3 dias após consumir o alimento contaminado, de dependendo da quantidade de toxina consumida. Outros sinais e sintomas do botulismo de origem alimentar incluem:

  • Dificuldade em engolir ou falar
  • Boca seca (indicativa dos efeitos anticolinérgicos da toxina, ver na seção causas),
  • Fraqueza facial em ambos os lados do rosto
  • Visão turva ou dupla
  • Pálpebras caídas
  • Problemas respiratórios
  • Náuseas, vômitos, cólicas abdominais e constipação (prisão do ventre)
  • Paralisia
  • Perda de reflexos tendinosos profundos

As pessoas com esse tipo de doença não apresentam febre. A morte geralmente costuma ser stribuida à paralisia respiratória. O estado mental desses pacientes costuma ser bom enquanto a doença durar.

A toxina botulínica tende a se ligar irreversivelmente por tempo prolongado. Portanto a recuperação completa de pessoas afetadas requer muitos meses a anos ou até que as terminações nervosas afetadas se regenerem.

Botulismo de feridas

Os sinais e sintomas de botulismo de feridas aparecem cerca de 10 dias após a toxina ter entrado no corpo. Isso ocorre porque o período de incubação das bactérias é um pouco prolongado (cerca de 4 dias ou mais). Neste tipo de doença, os sintomas gastrointestinais são menos intensos. Os sinais e sintomas de botulismo de feridas incluem:

  • Dificuldade de engolir ou falar
  • Fraqueza facial em ambos os lados do rosto
  • Visão turva ou dupla
  • Pálpebras caídas
  • Problemas respiratórios
  • Paralisia
  • A ferida pode ou não parecer vermelha e inchada.

Botulismo infantil

Se o botulismo infantil estiver relacionado à comida, como o mel, os problemas geralmente começam dentro de 18 a 36 horas após a toxina entrar no corpo do bebê. No início, os sintomas não são específicos. Por exemplo, o bebê pode ter constipação, choro fraco ou “atraso no
crescimento”, movimentos flexíveis devido à fraqueza muscular e dificuldade em controlar a cabeça. Outros sinais e sintomas do botulismo infantil podem incluir:

  • Irritabilidade
  • Babando
  • Pálpebras caídas
  • Cansaço
  • Interrupção da respiração,
  • Dificuldade em sugar ou alimentar
  • Paralisia flácida

A mortalidade de crianças com botulismo é muito baixa (l% a 2%). No entanto, pode ser que alguns óbitos infantis, atribuídos a outras condições (p. ex., síndrome de morte súbita do lactente), podem, na realidade, ter sido causados por botulismo.

Certos sinais e sintomas geralmente não ocorrem com o botulismo. Por exemplo, o botulismo geralmente não aumenta a pressão arterial ou a frequência cardíaca, nem causa febre ou confusão. Às vezes, no entanto, o botulismo de feridas pode causar febre.

Causas e transmissão

Bactéria Clostridium botulinum (C. botulinum)

C. botulinum é um grupo heterogêneo de bacilos anaeróbios grandes e formadores de esporos. O termo botulismo é derivado da palavra latina botulus, que significa salsicha, já que salsichas mal cozidas eram anteriormente associadas a intoxicações alimentares.

A bactéria C. botulinum não é invasivo e seus esporos não produzem toxinas. A produção de toxinas, portanto, requer a germinação de esporos, que ocorre em um lugar sem oxigenação suficiente (ambiente anaeróbico). Os esporos normalmente não germinam no intestino adulto; no entanto, eles podem germinar no intestino dos bebês.

Bactéria C. botulinum causadora do botulismo
Ilustração botulinum da bactéria 3d do clostridium. Imagem: MZinchenko/Shutterstock

Portanto, sua capacidade de criar doença se deve à produção de uma potente neurotoxinaToxina Botulínica – provavelmente a substância conhecida, até agora, como a mais tóxica para a humanidade. Ele é potencialmente fatal apenas em quantidades de 30-100 nanograma.

Toxina butolínica

Foram identificadas sete toxinas botulínicas (TB) distintas (A a G), sendo a doença humana mais comumente causada pelos tipos A e B; tipos E e F também são associados com doenças humanas. A TB é uma proteína dependente de zinco com peso molecular de 150 kDa.

A TB é produzida no interior da célula bacteriana, não sendo secretada, e aparece do lado de fora apenas após a autólise da célula bacteriana. A toxina é sintetizada inicialmente como uma protoxina (não tóxica), precisando tripsina ou outras enzimas proteolíticas para convertê-la em uma forma ativa.

Quando ativa a toxina botulínica impede a liberação do neurotransmissor acetilcolina, bloqueando, assim, a neurotransmissão colinérgica para as sinapses periféricas, ocasionando paralisia flácida. Após a entrada no organismo, a toxina é transportada para as terminações nervosas colinérgicas através do sangue. Ela não afeta o sistema nervoso central. A TB se liga aos receptores de acetilcolina nas junções neuromusculares, resultando no bloqueio da liberação do neurotransmissor.

O bloqueio da liberação de acetilcolina é permanente, mas a ação é de curta duração, pois a recuperação ocorre em 2 a 4 meses após o surgimento de novos axônios terminais.

Como a TB produz paralisia flácida, pode ser usada terapeuticamente para o tratamento de condições espasmódicas, como rugas faciais e para problemas médicos, como espasmos nas pálpebras e fortes dores de cabeça.

No entanto, tem havido ocorrências raras de efeitos colaterais graves, como paralisia muscular que se estende além da área tratada. Por isso, procure por um médico licenciado para quaisquer procedimentos cosméticos que inclua o uso da toxina onabotulinica A (Botox).

Botulismo de origem alimentar

O botulismo de origem alimentar geralmente advém dos alimentos enlatados caseiros com baixo teor de ácido, como legumes, frutas, peixes, mel. Também pode ser transmitida por alguns tipos de pimentas picantes, batatas assadas embrulhadas em papel alumínio e óleo com infusão de alho. Bem como em suco de cenoura. Este suco pode ter uma baixa acidez (pH 6) que permite a germinação dos esporos e produção de toxinas de C. botulinum em temperatura ambiente.

É importante lembrar que é possível prevenir a germinação dos esporos em alimentos, colocando o alimento em pH ácido, alta concentração de açúcar ou por armazenamento em temperaturas iguais ou inferiores a 4 °C. Por outro lado, a toxina botulínica pode ser destruída pelo aquecimento dos alimentos durante 10 minutos entre 60 e 100 °C. Aplicação dessas medidas podem ajudar a prevenir o botulismo.

Botulismo de feridas

Se você tiver uma ferida (notável ou não), uma infecção bacteriana por C. botulinum entra nela, podendo se multiplicar e produzir toxinas. O botulismo de feridas tende a crescer principalmente em usuários de drogas, como a injeção de heroína (principalmente o tipo “preto alcatrãp”, que pode conter esporos da bactéria.

Botulismo infantil

Muitas vezes os bebês contraem o botulismo infantil após consumirem mel ou quando entram em contato com solo (terra) contaminada com esporos ou pela bactéria. Os esporos da bactéria se instalam no trato intestinal, crescem, se multiplicam e produzem toxinas.

Complicações

A complicação mais preocupante e imediata do botulismo é a dificuldade de respirar, que pode ser fatal – causando morte. No entanto, outras complicações podem incluir:

Diagnóstico

Se você ou alguém próximo estiver com um mais sintomas do botulismo deve procurar ajuda médica imediata. Quanto mais cedo for o diagnóstico e o tratamento, menor é a possibilidade de ocorrer morte.

Seu médico poderá fazer um exame físico para identificar os sinais ou sintomas de envenenamento por botulismo. Ele também poderá fazer algumas perguntas sobre sua alimentação e ferimentos que você tenha adquirido para detectar as possíveis fontes da toxinas.

No caso específico dos bebês, serão examinados os sinais e sintomas físico e procurará consultar se o bê foi alimentado com algum produto que continha mel ou xarope de milho.

Como um dos meios laboratoriais auxiliares, os exames de fezes e de sangue podem ajudar a confirmar o diagnóstico do botulismo infantil ou de origem alimentar. Estes exames geralmente demoram muitos dias para se ter resultados. Por isso que muitos médicos preferem usar a observação clínica e/ou dos sintomas para fazer o diagnóstico.

Para não tomar uma decisão errada de diagnósticos, os médicos fazem alguns exames complementares para descartar a possibilidade de ocorrência de outra condição. Como exemplo, podemos citar síndrome de Guillain-Barre (GBS), miastenia grave, esclerose lateral amiotrófica, intoxicação por organofosforados, paralisia de carrapato, paralisia associada a antibióticos, e envenenamento por marisco.

Os exames complementares para o médico fazer um diagnóstico diferencial do botulismo, podem incluir:

  • eletromiografia (EMG) para avaliar a resposta dos músculos
  • imagem para detectar danos internos à cabeça ou ao cérebro
  • análise do líquido cefalorraquidiano, que pode determinar se os sintomas são causados ​​por uma infecção ou lesão no cérebro ou na medula espinhal

Tratamento

Médico segurando uma injeção. Imagem de Sam Moqadam/unsplash

O tratamento do botulismo pode ser feito por três (3) formas, nomeadamente:

  1. suporte ventilatório adequado;
  2. eliminação da bactéria do trato gastrointestinal pela utilização criteriosa de lavagem gástrica e terapia antibióticos; e
  3. administração de antitoxina botulínica.

Assistência respiratória

Nos casos em que a respiração é deficiente, os médicos costumam usar ventilador mecânico. Esta medida pode durar muitas semanas, dando o tempo para que os efeitos negativos da toxina diminuem.

O ventilador força o ar para os pulmões através de um tubo inserido nas vias respiratórias através do nariz ou da boca. O suporte ventilatório é extremamente importante na redução de mortalidade.

Remoção da toxina

O tratamento com a antitoxina trivalente contra as toxinas botulínicas A, B e E reduz o risco de complicações. Para bebês a antitoxina é diferente das dos adultos e é conhecida como imunoglobulina de botulismo. No sangue, esta antitoxina tem a capacidade de se ligar à toxina botulínica e assim acaba por impedir que chegue aos nervos e as prejudique seus nervos.

Contudo, a antitoxina não tem capacidade de reverter dono causado pela toxina nos nervos. No entanto, os nervos podem se regenerar com tempo. 

Antibióticos

Geralmente os antibióticos são são usados para o tratamento do botulismo de feridas. No entanto, esses medicamentos não são recomendados para outros tipos de botulismo porque podem acelerar a liberação de toxinas.

Os antibióticos mais usados são o metronidazol ou penicilina. O metronidazol ele age impedindo a síntese de ácido desoxirribonucleico e na degradação do DNA da bactéria. Mas, frequentemente ele pode causar reações adversar como dor de caça, vertigens, dispepsia, náusea, vómitos e sabor metálico persistente.

As penicilinas são vários tipos, alguns exemplos incluem a penicilina benzatínica, penicilina G e procaína. Elas podem desencadear erupções cutâneas, prurido, febre.

Reabilitação

A reabilitação do botulismo consiste na restauração, por meio de tratamentos e exercícios, da sua fala, deglutição e outras funções afetadas pela doença.

Contudo, a produção de anticorpos em quantidades capazes de proteger a pessoa de nova infecção parece não acontecer. Neste sentido, todos estamos suscetíveis a infecções ou recorrentes, caso as medidas de prevenção não forem observadas.

Prevenção

Você pode prevenir-se do botulismo se destruir os esporos em alimentos, se prevenir a germinação dos esporos (por exemplo, mantendo o alimento em pH ácido ou armazenando a 4 °C ou menos) ou ainda pela destruição das toxinas botulincas (elas são inativadas por aquecimento nas temperaturas entre 60 a 100 °C, por 10 minutos).

Como o Botulismo infantil tem sido associado ao consumo de mel contaminado, é importante que as crianças menores de 1 ano não ingiram mel ou xarope de milho.

Outras medidas gerais que podem ser implementadas para prevenir a doença incluem:

  • Siga as técnicas adequadas para enlatados caseiros e certifique-se de que a comida atinge a temperatura e o nível de ácido necessários.
  • Tenha cuidado ao comer peixes fermentados ou outros alimentos derivados de peixes.
  • Jogue fora todas as latas de alimentos comerciais abertas ou inchadas.
  • Guarde os óleos condimentados com alho ou ervas na geladeira.
  • Batatas cozidas embrulhadas em papel alumínio fornecem um ambiente livre de oxigênio no qual o botulismo pode ocorrer. Certifique-se de manter as batatas aquecidas ou coloque-as imediatamente na geladeira.
  • Ao ferva seus alimentos por 10 minutos, a toxina que causa o botulismo será destruída.

Referências bibliográficas: Clostridium botulinum. (2020). Twari, A. Nagali, S. NCBI. Microbiologia Médica. (2014). Patrick, R. et al. Elsevier.

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