Salicilatos faz parte de um grupo de medicamentos derivados do ácido salicílico (aspirina), produto da hidroxilação do ácido benzoico. Tem um pKa de 3.5, com baixo peso molecular.
A maior parte dos salicilatos são empregados por via oral em doses entre 20 e 650 mg. Os salicilatos mais conhecidos são ácido acetilsalicílico, salicilato de sódio, acetilsalicilato de lisina.
Cinética e metabolismo dos salicilatos
Os salicilatos têm uma boa absorção digestiva. O pico plasmático é alcançado perto de duas horas, sendo também encontrada maior união a proteínas plasmática (entre 80 e 90%).
Sua metabolização começa no tubo digestivo por reacções de hidrólises. No fígado a metabolização (fase I) termina com a produção do ácido gentísico e gentisúrico. Já as reações de conjugação termina com com a formação do ácido salicilúrico, salicilacil-glicurónido e salicilfenil-glicurónido.
A maior parte da sua eliminação (95%) é renal. Sendo a meia vida de eliminação dos salicilatos, quando a dose for inferior a 250 mg, é aproximadamente igual a 3 horas; podendo chegar até 22 horas nas doses tóxicas.
Mecanismo de acção e/ou toxicidade
Quando ocorre uma fosforilação oxidativa mitocondrial produz-se um desacoplamento do fluxo de protões da síntese do ATP no quinto complexo da membrana mitocondrial interna, o que gera uma diminuição na síntese de ATP, um aumento do consumo de Oxigênio, produção de dióxido de carbono e hiperémia, uma vez que a energia química não empregada se transforma em calor.
As doses mais altas, adicionalmente, há diminuição do consumo de O2, diminuição das oxidações celulares, formação de ácidos orgânicos e interferência no ciclo de Krebs.
Se houver hipoglicémia poderá ser devido ao estímulo suprarenal que induz a glicogenólise hepática, embora, se tenha descrito hipoglicémia em crianças e em pacientes diabéticos.
No sistema nervoso central dão lugar a estimulação directa com alterações neurosensoriais, estimulação respiratória bulbar, hiperventilação e alcalose respiratória, provocando também vômitos de origem centrais.
De todas as alterações as que têm maior importância clínica é a alteração do equilíbrio ácido-base. A alcalose respiratória é devida a hiperventilação inicial. Esta alcalose é compensatória a acidose metabólica inicial dos ácidos orgânicos, que são metabólitos da aspirina e os derivados das alterações metabólicas.
Transtornos da coagulação aparecem em ou situações crônicas e não em intoxicações agudas.
Quanto às doses tóxicas temos que assinalar o seguinte para o ácido acetlsalicílico: (1) adultos 10g, (2) crianças 240mg/Kg, (3) dose letal 20 a 30 g.
Manifestações clínicas
O tempo de latência da intoxicação é de 30 minutos. Seguido de um mal-estar geral com sintomas e sinais digestivos e sensação de calor, hipersudorese (suor), hiperémia (congestão dos tecidos, que se encontram avermelhados devido à dilatação dos vasos sanguíneo) e hiperventilação (respiração rápida).
Também é possível haver alterações neuro-sensoriais com vertigens, zumbidos, cefaleias (dor de cabeça) e delírio que podem levar ao coma, apesar de ser rara a perda da consciência.
É frequente a acidose metabólica e alcalose respiratória.
Também é notório a desidratação que pode levar a falha renal aguda e a hipertermia pode passar os valores de 40ºC, que nalgumas vezes é confundida com sídrome de hipertermia maligna.
Tratamento
Para o correcto tratamento sintomático teremos que:
- Não corrigir nem administrar tranquilizantes, reduzindo a hiperventilação porque poderá aumentar a acidose.
- A acidose deverá ser tratada com o bicarbonato, assim como o desequilíbrio electrolítico e a hipopotassémia.
- A hipertermia deverá se tratado usando meios físicos, como o uso de comprensas frias ou mediante o banho com água fria.
A evacuação digestiva (lavagem gástrica, uso do carvão activado entre 30 e 50 g e emese por ipecacuanha) poderá ser útil quando se ter a certeza da ingestão dos salicilatos.
A diurese alcalina (administração parenteral do bicarbonato) é também eficaz porque esta causa a alcalinização da urina e ajudando assim na eliminação de grandes quantidades do tóxico.