A cólera é causada por uma infeção no intestino provocada pela bactéria vibrio cholerae. A bactéria faz com que as células que revestem o intestino produzam uma grande quantidade de fluidos que causam diarreia e vômitos.
A infeção se espalha quando há ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes ou vômito de uma pessoa infetada com a doença.
O suprimento de água ou comida contaminadas pode causar surtos maciços em um curto espaço de tempo, principalmente em áreas superlotadas, como favelas ou campos de refugiados.
Epidemiologia da cólera em Moçambique
A epidemia de cólera afetou, em 1973,5 províncias do país, registrando-se 753 casos e 90 óbitos. De 1975 a 1977 apareceram alguns casos esporádicos, num total de 29, dos quais foram registrados 6 óbitos. A partir de 1979 a doença ocorre praticamente sem interrupção até 1984. Depois de um período de 4 anos, ressurgiu em 1989 na Cidade de Tete, Província de Tete, estendendo-se aos distritos de Moatize e Changara da mesma província.
Os casos notificados de cólera incrementaram-se de 371, em 1989, a 31.731, em 1992, com uma taxa de incidência de 2,7/100.000 habitantes. e 211/100.000 habitantes., respetivamente. Apesar da taxa de incidência ter tendência ao aumento nestas duas décadas, a taxa de letalidade tem um comportamento decrescente (Tabela1). O número de províncias e distritos afetados pela cólera também aumentou durante o mesmo período, com maior incidência nas capitais de província e nos distritos onde passam as principais vias de comunicação e se verificam maiores aglomerados populacionais (deslocados, refugiados, e outros).
Das análises laboratoriais realizadas, foi isolado o V. cholerae, biótipo EL TOR, sendo identificados os dois serotipos: Inaba e Ogawa. Os anos de 1981 e 1982 foram marcados pela resistência in vitro do V.Cholerae à tetraciclina e sulfadoxina, principalmente nas Cidades de Maputo e Beira. Em 1990 registrou-se novamente na Cidade da Beira, província de Sofala, resistência in vitro à tetraciclina.
Durante os anos de 1990-1992 observou-se maior incidência dos casos de cólera nos meses do período chuvoso e quente, com exceção do ano de 1992 em que houve maior incidência no período seco e frio, comparado aos anos anteriores.
Dos 143 sistemas de abastecimento de água canalizada existente no país, foram inquiridos 69 pelo Departamento de Higiene Ambiental do Ministério de Saúde em dezembro de 1992. Em 81% dos sistemas inquiridos, não existia ou não estava em funcionamento nenhum sistema de tratamento de água canalizada para o consumo humano; 64% abasteciam-se inteira ou parcialmente através de fontes superficiais (rios, lagoas, nascentes, e outras); e em 78% o pessoal de saúde informou que as entidades responsáveis pelo sistema de abastecimento de água não podiam proceder à desinfecção por falta de produtos químicos (HTH).
Fonte: Aragón M, et al (1994). Revista de saúde pública
Sintomas e causas da cólera
A cólera é causada por uma infeção no intestino provocada pela bactéria vibrio cholerae. A bactéria faz com que as células que revestem o intestino produzam uma grande quantidade de fluidos que causam diarreia e vômitos.
A infeção se espalha quando há ingestão de alimentos ou água contaminada com fezes ou vômito de uma pessoa infetada com a doença.
O suprimento de água ou comida contaminadas pode causar surtos maciços em um curto espaço de tempo, principalmente em áreas superlotadas, como favelas ou campos de refugiados.
Geralmente, os sintomas aparecem de dois a três dias após a infeção, mas podem surgir em algumas horas ou em até cinco ou mais dias. A infeção por cólera é normalmente leve e assintomática, mas, por vezes, pode ser grave, resultando em diarreia aquosa profusa, vômito e câimbras nas pernas.
O paciente rapidamente perde fluidos corporais, o que leva à desidratação e ao choque. Sem tratamento, a infeção pode levar à morte em questão de horas.
Tratamento da cólera em Moçambique
O tratamento da cólera em Moçambique, assim como qualquer outra enfermidade infectocontagiosa requer um diagnóstico prévio. A cólera pode ser diagnosticada por meio do exame de amostras de fezes ou do reto, mas, devido à rápida evolução da doença, o tempo para a realização do exame é normalmente curto.
Em meio a uma epidemia, o diagnóstico é geralmente feito com base no histórico do paciente e em um breve exame. O tratamento é iniciado antes mesmo que o laboratório confirme o diagnóstico.
Embora os sinais e sintomas de cólera sejam inconfundíveis em áreas endêmicas, a única maneira de confirmar o diagnóstico da doença é identificar a bactéria em uma amostra de fezes.
Testes rápidos de cólera já estão disponíveis, permitindo que os profissionais de saúde em áreas remotas possam fazer o diagnóstico precoce de cólera e dar início o quanto antes ao tratamento. A confirmação mais rápida da doença ajuda a diminuir as taxas de mortalidade e a controlar os surtos de cólera e uma possível epidemia.
A cólera pode ser tratada de forma simples e efetiva por meio da reposição imediata dos fluidos e sais perdidos devido aos vômitos e diarreias. Com a reidratação imediata, menos de 1% dos pacientes chegam a perder suas vidas.
As vítimas da cólera são sempre tratadas com soluções de reidratação oral, em que os mesmos são pré-embaladas contendo açúcares e sais misturados com água e ingeridos em grande quantidade. A reposição dos fluidos em caso de estado grave deve ser feita de forma intravenosa e, por vezes, combinada com antibióticos.
Os medicamentos mais usados para o tratamento de cólera são:
- Azitromicina
- Ciprofloxacina
- Doxiciclina
Dentre vários outros medicamentos. Lembramos que só um médico pode indicar corretamente o medicamento e as suas quantidades.
Como prevenir a cólera em Moçambique
Podemos prevenir a cólera em Moçambique se conhecermos bem as suas causas e as regiões endémicas. As medidas preventivas são tão importantes quanto o tratamento, já que elas têm impacto direto na duração e na gravidade da epidemia. Normalmente, um surto de cólera dura de um a três meses. A doença é transmitida por meio da água contaminada, motivo pelo qual as comunidades mais afetadas são, geralmente, as de pessoas mais vulneráveis, com acesso precário a saneamento. Com saneamento adequado, uma epidemia de cólera não é muito provável. Mas em Moçambique, apenas 84% da população urbana e 37% da população rural têm acesso a melhores fontes de água.
Se você estiver viajando para áreas de cólera endêmica, o risco de contrair a doença é extremamente baixo se você seguir algumas precauções:
- Lavar as mãos com água e sabão frequentemente, especialmente depois de usar o banheiro e antes de manipular alimentos. Se possível, desinfete as mãos com álcool.
- Beba apenas água potável, de preferência água engarrafada.
- Alimente-se de comidas completamente cozidas e quentes.
- Evite alimentos que se come crus, como peixes e mariscos de qualquer tipo.
- Atenha-se a frutas e legumes que você pode mesmo pode preparar e descascar, como bananas, laranjas e abacates.
- Desconfie de laticínios, incluindo sorvetes, que muitas vezes podem ser feitos com leite não pasteurizado.
Vacina
Hoje em dia, já existem doses de vacina disponíveis para cólera. Esta é, de longe, a forma mais eficaz de evitar a infecção. As vacinas existentes, no entanto, não são aplicadas rotineiramente na população, pois oferecem proteção relativa e de curta duração.