Três quartos dos pacientes covid-19 recuperados tinham sinais de danos cardíacos persistentes meses após sua infecção inicial.
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Pessoas que se recuperam do COVID-19 podem ter danos cardíacos persistentes e inflamação meses após a infecção inicial, mesmo que não tenham sido hospitalizadas, sugere um pequeno novo estudo.
O estudo, publicado segunda-feira (27 de julho) na revista JAMA Cardiology, envolveu 100 adultos de 45 a 53 anos na Alemanha que haviam se recuperado recentemente do COVID-19. Cerca de um terço dos participantes necessitaram de internação, enquanto os outros dois terços conseguiram se recuperar em casa.
Em exames de ressonância magnética realizados mais de dois meses após o diagnóstico, cerca de três quartos desses pacientes apresentaram sinais de anormalidades cardíacas, incluindo inflamação do músculo cardíaco, ou miocardite. Além disso, muitos pacientes também apresentam níveis detectáveis da troponina* que pode indicar lesões cardíacas, como danos após um ataque cardíaco.
*Troponina é uma proteína encontrada em células cardíacas que é liberada no sangue quando o músculo cardíaco é danificado.
No entanto, exatamente o que esses achados significam para a saúde cardíaca dos pacientes a longo prazo não está claro, disseram os autores. Uma vez que as anormalidades cardíacas observadas no estudo ocasionalmente ocorrem com outras doenças respiratórias, como a gripe e podem ser temporárias.
Entretanto, dada a forma como as anormalidades cardíacas eram comuns neste grupo de estudo, os achados “requerem urgentemente confirmação” em uma população maior, concluíram os autores.
Os achados são potencialmente preocupantes porque a inflamação cardíaca e os danos podem causar insuficiência cardíaca, uma condição potencialmente fatal que ocorre quando o músculo cardíaco não pode bombear sangue suficiente para atender às demandas normais do corpo.
Prevalência da COVID-19 e os danos cardíacos
Tanto os pesquisadores quanto os pacientes ficaram surpresos com a prevalência dessas anormalidades cardíacas, e que ainda foram pronunciados semanas após a recuperação dos pacientes, disse à UPI a autora principal do estudo.
“Embora ainda não tenhamos a evidência direta de consequências [de longo prazo] ainda, como o desenvolvimento de insuficiência cardíaca … é bem possível que em alguns anos esse fardo seja enorme”
disse Puntmann
Embora inicialmente reconhecido principalmente como uma infecção pulmonar, a COVID-19 foi agora ligado com danos a vários outros órgãos no corpo, incluindo o cérebro e o coração. No entanto, muitas dessas complicações foram observadas em pacientes doentes o suficiente para serem hospitalizados.
Dos 100 pacientes do novo estudo, 67 não foram hospitalizados e a maioria deles apresentou sintomas leves ou moderados. Embora, alguns pacientes tinham condições subjacentes, como pressão alta, diabetes ou asma, a maioria não apresentavam estas comorbidades.
Como o estudo foi conduzido?
Os pacientes foram acompanhados com uma ressonância magnética cerca de dois a três meses após o diagnóstico inicial. Neste momento, cerca de um terço dos pacientes relataram ter experimentado sintomas contínuos da COVID-19 (saiba diferenciar COVID-19 e a Gripe), como falta de ar e exaustão geral. Alguns pacientes tiveram palpitações cardíacas e dor no peito, mas nenhum pensou que tinham um problema cardíaco relacionado ao COVID-19, informou o STAT.
Os pesquisadores compararam os exames de pacientes recuperados da COVID-19 com os de pessoas semelhantes (em idade e estado de saúde), porém que não tinham sido infectados pelo coronavírus. No geral, 78% dos pacientes COVID-19 recuperados apresentaram sinais de algum tipo de anormalidade cardíaca. O problema cardíaco mais comum foi a inflamação do músculo cardíaco, ou miocardite, experimentada por 60% dos pacientes.
Alguns pacientes também apresentaram sinais de inflamação do pericárdio, o tecido que envolve o coração. A miocardite ocasionalmente ocorre com gripe, adenovírus e outros vírus respiratórios, embora seja muito menos comum. Por exemplo, aparecendo em menos de 10% dos casos de gripe, de acordo com um estudo de 2012 na revista Influenza Research and Treatment.
A presença de anormalidades cardíacas não foi relacionada à gravidade da COVID-19 dos participantes do estudo.
“Nossos achados demonstram que os participantes com uma relativa escassez de [condições] cardiovasculares pré-existentes e com recuperação principalmente domiciliar tiveram envolvimento inflamatório cardíaco frequente” após o COVID-19, disseram os autores.
SARS-CoV-2 achado no tecido cardíaco
Outro estudo, também publicado na JAMA Cardiology, analisou os achados da autópsia de 39 idosos que morreram de COVID-19. Portanto, achou-se evidências do SARS-CoV-2, o vírus causador do COVID-19, no tecido cardíaco de 61% dos pacientes.
Em um editorial que acompanha esses estudos, o Dr. Clyde Yancy, cardiologista da Faculdade de Medicina Feinberg da Northwestern, e o Dr. Gregg Fonarow, cardiologista da Escola de Medicina Geffen da UCLA, disseram que:
juntos, esses dois estudos levantam preocupações de que a pandemia COVID-19 possa estimular um aumento nos casos de insuficiência cardíaca.
“Estamos inclinados a levantar uma nova e muito evidente preocupação de que a cardiomiopatia [doença muscular cardíaca] e a insuficiência cardíaca relacionada ao COVID-19 possam evoluir potencialmente à medida que a história natural dessa infecção se torna mais clara”, disse o editorial.
Os autores editoriais acrescentaram que não querem “gerar ansiedade adicional”, mas pedem estudos rigorosos para confirmar ou refutar os novos achados.