A anemia hemolítica é um distúrbio em que os glóbulos vermelhos (hemácias) são destruídos mais rapidamente do que produzidos. As hemácias são células que contém ferros e são responsáveis por transportar oxigênio pelo organismo.
Portanto, os sintomas da anemia hemolítica incluem fraqueza, palidez, icterícia, urina escura, febre e incapacidade de realizar atividades físicas (entenda tudo sobre anemia). O seu tratamento pode variar desde transfusões de sangue, uso de medicamentos como os corticosteroides.
O que é anemia hemolítica?
A anemia hemolítica é um distúrbio no qual há hemólise (destruição) das hemácias devido anormalidades que elas apresentam. Geralmente, o nível das hemácias destruídas é mais alta do que o da sua produção.
Muitas anormalidades dos glóbulos vermelhos tornam as células frágeis, de modo que elas se romperem facilmente quando passam pelos capilares, principalmente, pelo baço.
No entanto, em pessoas com anemia hemolítica a produção de hemácias é normal e há casos em que é maior do que o normal, mas o tempo de vida destas células frágeis é muito curto. Isso ocorre porque elas células são destruídas muito mais rapidamente do que podem ser formadas.
A anemia hemolítica pode ser hereditária ou adquirida. Contudo, a maioria dos casos dela é hereditária. Para entendermos melhor como esta doença realmente ocorre, iremos abaixo citar alguns exemplos:
- Esferocitose hereditária. Nestes casos os glóbulos vermelhos são muito pequenos e esféricos, ao invés de serem parecidos a discos bicôncavos normais. Essas células anormais não conseguem suportar as forças de compressão que existem nos capilares, porque a sua estrutura da membrana celular não é flexível, como uma bolsa, da mesma forma que acontece com as hemácias normais.
- Anemia falciforme. As hemácias de pessoas com anemia falciforme apresentam uma hemoglobina (ou hemoglobina S), que precipita formando cristais dentro dos glóbulos vermelhos, quando ela é exposta a baixas concentrações de oxigênio. Dessa forma, os cristais alongam a célula, dando o aspecto de foice, em vez de um disco bicôncavo. A hemoglobina precipitada também danifica a membrana celular, de tal forma que as células ficam extremamente frágeis, resultando em anemia grave. Uma vez que o processo se inicie, ele progride rapidamente, promovendo redução acentuada da massa de hemácias em poucas horas e, em alguns casos, morte.
- Eritroblastose fetal. Neste caso, as células vermelhas do grupo sanguíneo Rh-positivas do feto são atacadas por anticorpos da mãe Rh-negativa. Neste sentido, as células Rh-positivas do feto são fragilidas e como resultado elas se rompem rapidamente, levando ao nascimento de criança com anemia grave.
Anemia hemolítica e o baço
O baço faz parte do sistema linfático e protege o corpo eliminando os glóbulos vermelhos envelhecidos e degradados. O baço está localizado atrás do estômago, no lado esquerdo do abdômen. Um baço inchado pode ser um sinal de que o corpo está sobrecarregado com glóbulos vermelhos gastos ou danificados.
Para verificar se o baço está inchado, o médico sentirá seu abdômen durante o exame físico ou, se necessário, fará uma ultrassonografia para medir o tamanho do baço.
Quais são os sintomas da anemia hemolítica?
Os sintomas da anemia hemolítca pode variar para cada pessoa. Mas, elas podem incluir:
- Palidez anormal ou falta de cor da pele
- Pele, olhos e boca amarelados (icterícia)
- Urina de cor escura
- Febre
- Fraqueza
- Tontura
- Confusão
- Não consiguir lidar com a atividade física
- Baço e fígado aumentados
- Aumento da frequência cardíaca (taquicardia)
- Sopro cardíaco
Os sintomas da anemia hemolítica podem ser semelhantes a outras doenças do sangue ou problemas de saúde. Sempre consulte seu médico para obter um diagnóstico.
Quais são as causas da anemia hemolítica?
Primeiramente entenda que existem 2 tipos principais de anemia hemolítica: hereditária e adquirida. Diferentes doenças, condições ou fatores podem causar cada tipo:
Hereditária
Com o tipo hereditário, os pais doentes passam os genes aos filhos. Duas causas comuns desse tipo de anemia são a anemia falciforme e a talassemia (ocorre quando há defeito de produção da hemoglobina). Portanto, essas condições produzem glóbulos vermelhos que não vivem tanto quanto os glóbulos vermelhos normais.
Adquirida
A anemia hemolítica também pode ser adquirida ou causada por algumas das condições abaixo. É importante lembrar que com esse tipo de anemia, a pessoa não nasce com ela e o organismo dela produz glóbulos vermelhos normais, mas eles são destruídos posteriormente.
- Certas infecções, que podem ser virais ou bacterianas
- Medicamentos, como penicilina, medicamentos antimaláricos, medicamentos à base de sulfa ou paracetamol
- Cânceres de sangue
- Doenças autoimunes, como lúpus, artrite reumatóide ou colite ulcerosa
- Certos tumores
- Baço hiperativo (hiperesplenismo)
- Válvulas cardíacas mecânicas que podem danificar os glóbulos vermelhos à medida que saem do coração
- Reação grave a uma transfusão de sangue
Alguns tipos de anemia hemolítica adquirida são de curta duração (temporária) e desaparecem ao longo de vários meses. Outros tipos podem se tornar vitalícios (crônicos). Eles podem ir embora e voltar com o tempo.
Como a anemia hemolítica é diagnosticada?
O diagnóstico da anemia hemolítica costuma ser feito com base nos sintomas, no histórico médico e exame físico. Além disso, um médico também pode solicitar os seguintes testes:
- Hemograma completo. Este teste mede muitas partes diferentes de seu sangue. Eles podem descobrir que tipo de anemia você tem e sua gravidade. Por meio de um exame de sangue, é possível verificar se ocorreu destruição dos glóbulos vermelhos, pois o médico pode contar o número de glóbulos imaturos ou novos no sangue. Níveis elevados podem indicar que o corpo aumentou a produção para compensar a anemia.
- Outros exames de sangue. Se o teste de hemograma completo mostrar que você tem anemia, você pode fazer outros exames de sangue. Por exemplo, os exames de sangue também podem mostrar níveis de bilirrubina mais altos do que o normal e níveis baixos de uma proteína chamada haptoglobina (Hp ou HPT). A bilirrubina é uma substância encontrada na bile, um subproduto da destruição dos glóbulos vermelhos. O teste de haptoglobina é especialmente útil no diagnóstico de anemia hemolítica autoimune idiopática, pois junto com outros exames de sangue, ele mostra que a proteína está sendo destruída na corrente sanguínea junto com os glóbulos vermelhos maduros.
- Teste de urina. Os testes de hemoglobina na urina confirmam que ocorreu destruição dos glóbulos vermelhos. O objetivo do teste de Coombs direto é identificar um aumento nos níveis de anticorpos ligados às células do sangue. É um teste projetado especificamente para diagnosticar anemia hemolítica autoimune. O teste de aglutinina fria pode detectar níveis elevados de anticorpos associados a infecções que causam anemia hemolítica, como a pneumonia por micoplasma, que é um tipo de bactéria que infecta os pulmões principalmente das pessoas com menos de 40 anos de idade.
- Aspiração ou biópsia da medula óssea. Isso envolve a coleta de uma pequena amostra de fluido da medula óssea (aspiração) ou tecido sólido da medula óssea (chamada de biópsia central). A amostra é geralmente retirada dos ossos do quadril. É verificado o número, tamanho e maturidade das células sanguíneas ou células anormais.
Tratamento da anemia hemolítica
O tratamento da anemia hemolítica pode incluir:
- Transfusões de sangue
- Medicamentos corticosteróides, como a prednisona, que podem melhorar a contagem de glóbulos vermelhos. Estes medicamentos são geralmente o primeiro tratamento para a anemia sintomática ou com tendência a piorar. Se sua anemia não melhorar com esteróides, pode ser necessário fazer uma cirurgia para remover o baço. Se a remoção do baço não for eficaz, pode ser necessário usar imunossupressores. Essas drogas suprimem o sistema imunológico e impedem que os anticorpos (proteínas) ataquem as células sanguíneas.
- Tratamento para fortalecer seu sistema imunológico (usando imunoglobulina intravenosa)
- Rituximab
Quais são os tipos da anemia hemolítica
Existem pelo menos três tipos da anemia hemolitíca, nomeadamente: autoimune, imune ideopática e imune induzida por medicamentos. A seguir iremos discutir cada tipo, suas classificações e diferenças.
Anemia hemolítica autoimune (AHA)
A anemia hemolítica autoimune (AHA) refere-se a um grupo de doenças responsáveis pela destruição dos próprios glóbulos vermelhos pelo sistema imunológico. Estas doenças raras ocorrem quando os anticorpos – proteínas que normalmente protegem o corpo contra vírus ou outras infecções – aderem por engano aos glóbulos vermelhos.
Os glóbulos vermelhos duram normalmente cerca de 120 dias. No entanto, quando os anticorpos aderem a eles por engano, eles se tornam alvos do sistema imunológico e são destruídos prematuramente, antes do final de seu ciclo de vida natural. Quando isso acontece, o corpo provavelmente aumenta a produção de novos glóbulos vermelhos.
No entanto, com o tempo, torna-se difícil acompanhar a taxa de destruição. Eventualmente, o número total de glóbulos vermelhos diminui, causando uma falta de glóbulos chamada anemia.
O AHA pode surgir repentinamente ou gradualmente. Os diferentes tipos da anemia hemolítica autoimune são classificados de acordo com sua causa. Cerca de metade dos casos de AHA são idiopáticos, o que significa que suas causas são desconhecidas. No entanto, na outra metade dos casos, ela está relacionado a uma doença. As doenças que podem causar AHA incluem o seguinte:
- leucemia
- lupus eritematoso sistémico
- mononucleose
O AHA também pode ser experimentado após tomar certos medicamentos. Alguns antibióticos, como penicilina e sulfa, são conhecidos por causar essa condição.
Anemia hemolítica idiopática autoinmune
Anemia hemolítica autoimune (AHIA) é um grupo de doenças do sangue raras (afeta aproximadamente uma em cada 100.000 pessoas e é mais comum em mulheres), de causa desconhecida, que ocorrem quando a taxa de destruição dos glóbulos vermelhos é maior do que a taxa de produção.
Em casos muito raros, a AHIA pode ser um efeito colateral de certos medicamentos, incluindo antibióticos e medicamentos antiinflamatórios não esteroides (AINEs) de venda livre. Alguns exemplos de AINEs incluem aspirina, ibuprofeno e naproxeno.
Um caso extremamente raro é o AHIA adquirido como resultado de uma sobredose (overdose) de lecitina, que ocorre quando o paciente toma uma dose excessiva de suplementos de lecitina (mais de 5 cápsulas por dia). A lecitina é um suplemento nutricional geralmente inofensivo se tomado nas doses recomendadas. É comumente usado em alimentos processados comercialmente como substituto da proteína do leite.
A AHIA é muito grave e geralmente apresenta risco de vida devido ao seu início súbito. A anemia hemolítica idiopática autoimune (AIHA) requer atenção médica imediata e hospitalização.
Anemia hemolítica inmune induzida por medicamentos
A anemia hemolítica imunológica induzida por medicamentos (AHIIM) é uma doença sanguínea muito rara. Esta doença pode afetar uma em um milhão de pessoas. Ocorre quando o sistema imunológico (defesa) ataca os glóbulos vermelhos devido à ação de um medicamento.
Existem alguns medicamentos que podem fazer com que o sistema imunológico confunda os glóbulos vermelhos com invasores estranhos e produza anticorpos para combatê-los. Como resultado, o sistema imunológico pode destruir os glóbulos vermelhos e levar à anemia. Normalmente, se a pessoa para de tomar o medicamento, a condição pode ser mantida sob controle. No entanto, em casos raros, você pode precisar de uma transfusão de sangue.
A seguir estão listados os medicamentos que podem causar a anemia hemolítica imune:
- antibióticos com cefalosporina
- Dapsona
- levodopa
- levofloxacina
- metildopa
- nitrofurantoína
- analgésicos e antiinflamatórios não esteróides (AINEs), como o ibuprofeno
- penicilina
- fenazopiridina
- quinidina
Qualquer pessoa pode ter uma reação imunológica a essas drogas. Não é possível saber se ocorrerá uma reação ou se uma pessoa é hipersensível ao medicamento até que comece a tomá-lo.
Referências
- Hemolytic Anemia. Johns Hopkins Medicines
- Guyton. Tratado de Fisiologia Médica. Capítulo 32: Hemácias, anemia e policitemia. Pág. 445.